Sacerdócio, uma Profissão?

Pe. Gaspar S. C. Pelegrini

Imagino um grupo de amigos reunidos e cada um falando sobre o que faz. Um é médico, outro é professor, outro é pedreiro, outro é servidor público, outros são outras coisas e um é padre. Cada um tem sua profissão, seu trabalho. Mas será que do padre, eu posso falar assim também? Será uma profissão como tantas outras? E se não, qual seria a diferença?

E é por aqui que desejo conduzir esta reflexão. Padre não é uma profissão, não é uma carreira.

Por que? Vamos lá então.

1. Profissão é o resultado de uma escolha pessoal. Nós escolhemos, analisando uma série de circunstâncias: nossas aptidões, o gasto para nos capacitarmos, os benefícios, mesmo econômicos que esta profissão nos trará. Nem sempre é fácil fazer este cálculo, esta escolha. Mas é sempre uma escolha levando em conta as vantagens justas e honestas que poderemos ter.

Vocação é a resposta – livre e pessoal, sem dúvida – ao chamado de Deus. Diz Jesus: “Não fostes vós que me escolhestes. Eu vos escolhi”. (Jo 15, 16)

O primeiro passo é dado por Deus que nos chama. E a nossa resposta ao chamado não deve levar em conta as vantagens pessoais, não é baseada em nossas próprias aptidões. Olhando por este ângulo, é uma grande aventura, mas com todos os requisitos de segurança, porque está alicerçada no chamado de Deus.

2. Na profissão é normal a pessoa querer subir de posto, fazer carreira, dar o melhor de si para ser promovido, até mesmo para ter um retorno econômico, merecido pelo esforço pessoal. Em geral existe esta correlação entre esforço pessoal e retorno financeiro, sem que haja ganância, ambição, etc. Muitas vezes, uma boa comissão será um ótimo incentivo para o crescimento profissional.

Na vocação, isso pode ser um grande perigo. Na vocação não se faz carreira. Não se trabalha para ser promovido. Não se busca uma recompensa material, nem mesmo o reconhecimento pelo trabalho feito. Aquele que nos chamou nos deu a regra de como devemos fazer: “Quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, deveis dizer: ‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’ ”. (Lc 17, 9-10)

Por isso há coisas que não combinam de jeito nenhum com a vocação: o carreirismo, o interesse, a avareza, a ambição, a ostentação, a vaidade, etc.

3. Outra grande diferença entre vocação e profissão: a profissão, umas mais, outras menos, tem momentos em que é exercida. A vocação é uma entrega da vida. Dizia São Manoel Gonzalez: “O sacerdote não tem horas de sacerdócio, como o empregado as tem de escritório; é sacerdote dia e noite; em casa e na rua; em suas brincadeiras e seus momentos sérios; entre seus fiéis e entre seus amigos; entre seus negócios e obras de zelo; numa palavra: não é um homem e um sacerdote, mas somente isso: um sacerdote”. (Un Sueño Pastoral)

A vocação se confunde com nosso próprio ser, e isso com um grande fundamento teológico, pois, como disse São João Paulo II: “O Espírito, consagrando (o sacerdote) e configurando-o a Jesus Cristo Cabeça e Pastor, cria uma ligação que, situada no próprio ser do sacerdote, precisa ser assimilada e vivida de maneira pessoal, isto é, consciente e livre, mediante uma comunhão de vida e de amor cada vez mais rica e uma partilha sempre mais ampla e radical dos sentimentos e das atitudes de Jesus Cristo. Neste ligame entre o Senhor Jesus e o padre, ligame ontológico e psicológico, sacramental e moral, está o fundamento e, ao mesmo tempo, a força para aquela ‘vida segundo o Espírito’ e aquela ‘radicalidade evangélica’, à qual é chamado todo sacerdote”. (Pastores Dabo Vobis, n. 72)

Portanto, naquele grupo de amigos, encontramos várias profissões e uma vocação, uma vida configurada e consagrada por um chamado, o chamado de Deus.

Extraído da revista Vem e Segue-me de agosto de 2018.

1 Comentário

  1. Sacerdotió mysterium Dei est. Deo gratias.

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